Embrapa ensina fazer solarizador para esterilização do solo

Postado em 20/08/2018
Embrapa ensina

Equipamento serve para desinfetar a terra que será usada como substrato na produção de mudas. Gasto para a montagem não passa de R$ 500 e usa materiais fáceis de encontrar.

Já se sabe há bastante tempo que a energia solar pode ser usada para eliminação de organismos nocivos no solo. Por isso, os pesquisadores da Embrapa resolveram criar uma adaptação mais barata para viabilizar a tecnologia também a pequenos produtores. Chamado de “Solarizador’, o equipamento é uma alternativa para a conhecida esterilização de solos, que serão usados como substrato na produção de mudas.
Segundo a entidade, com ele é possível produzir mudas sem nematoides, uma das maiores preocupações dos produtores de todo o país. A técnica já é adotada por países como Estados Unidos, Israel e Holanda.

O equipamento também elimina os principais organismos que causam doenças nas plantas e ainda mantém os que são benéficos. Tudo isso sem riscos ambientais e para a saúde dos produtores, de fácil produção e manutenção. Essas são as vantagens do equipamento, quando comparado a outros sistemas tradicionais de desinfestação, como autoclaves, fornos à lenha ou aplicação de químicos, que não são tão eficientes e causam danos ao meio ambiente.

A nova proposta, de acordo com o pesquisador da Embrapa Rondônia José Roberto Vieira Júnior, foi desenvolvida em função das dificuldades em se obter parte dos materiais necessários para construção do Coletor Solar. “Buscamos manter a eficiência, com algumas das características originais, mas adaptando o equipamento às condições e disponibilidades de recursos locais”, explica.


Quanto custa?
Segundo Júnior, o custo médio para a produção do Solarizador, com pequenas variações em cada região, fica em torno de R$ 500. “Não conseguimos encontrar tubos de ferro fundido ou aço na espessura original descrita no projeto original do Coletor Solar por menos de R$ 500 a peça e o equipamento leva até seis tubos de 150 milímetros, o que tornaria o equipamento caro demais para construir nas condições locais. Também substituímos o plástico de cima por vidro, uma vez que o primeiro rasgava demais durante uso. Embora a eficiência diminua em relação ao original, ele funcionou muito bem com vidro de 3 milímetros de espessura”, garante ele.


Como funciona?
Na prática, o solo é aquecido por meio da radiação solar, utilizando-se do efeito estufa promovido pelo equipamento. A radiação atravessa uma superfície transparente, convertendo-se em energia calorífica na superfície do solo, que é utilizada principalmente no processo de evaporação da água ali armazenada, gerando vapores de temperaturas a partir de 50ºC. Essa temperatura é suficiente para eliminar a grande maioria dos nematoides, vermes de solo que provocam danos ao sistema radicular das plantas e que, para sobreviver, precisam de temperaturas inferiores a 40ºC.

As temperaturas máximas obtidas no Solarizador foram de 65°C, mas o pesquisador explica que há relatos de temperaturas chegando a valores superiores a 70°C em algumas regiões. Como temperaturas acima de 45°C já são prejudiciais aos nematóides, eles são eliminados em algumas horas de tratamento. “Recomenda-se o tratamento por, no mínimo, dois a três dias, já que a ocorrência de nuvens esporádicas, dias nublados ou frios podem afetar a eficiência geral,” destaca o José Roberto.


Importância da produção de mudas sadias
A produção de mudas livres de nematoides é uma das ações mais importantes para o controle dessa doença de solo. Nas mudas, esses organismos podem causar diversos danos, como redução e atraso no crescimento, desuniformidade e mesmo morte. Além disso, o plantio no campo de mudas infectadas afeta direta e negativamente a produção, com a morte das plantas, dependendo da espécie de nematoide.

Problema ainda mais sério é disseminação dos patógenos em áreas que ainda não estavam infestadas, causando o surgimento da doença e com sérios prejuízos aos produtores. Quando instalados, o controle ou a eliminação desses organismos tornam-se grandes problemas, devido aos poucos métodos de controle e às desvantagens de seu uso. “Os produtores que não realizam o tratamento do substrato na produção das mudas correm sérios riscos de levar a doença às suas áreas. Além disso, em algumas regiões do Brasil, especialmente na produção de mudas de café, os produtores podem ter seus lotes ou mesmo toda a produção do viveiro de mudas interditada e destruída”, conta Vieira.

Até recentemente, um dos métodos mais utilizados em viveiros era o tratamento químico dos substratos, principalmente com o uso de brometo de metila, biocida capaz de eliminar todo e qualquer ser vivo presente no solo, criando o chamado “vácuo biológico”. O efeito obtido não é interessante, pois elimina também os organismos benéficos. Além disso, seu uso causa danos à camada de ozônio, o que provocou a proibição de seu uso no Brasil, vigente desde 2003. Sem o brometo, os produtores de mudas ficaram com poucas alternativas economicamente viáveis e sempre houve a necessidade de técnicas ambientalmente seguras. O Solarizador contempla ambas as demandas.


Fonte: Canal Rural-UOL